Poesias e Artes de Dalva Saudo!

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Poesias, fotos e arte naif

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Fragmentos de uma vida colorida.

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sábado, 22 de outubro de 2011

Dalva Saudo "Autocondenação"


 Era uma lindíssima casa. Dessas que a gente bate o olho e logo diz:
           ---Nossa! É casa de rico! Na frente havia um lindo jardim, caminhonete e carros novos nas garagens.  Uma entrada impossível de ser ignorada pelos olhos que gostam de ver a beleza de uma moderna arquitetura contrapondo-se com flores e cores de vários matizes.
          Luana passava, olhava e incansavelmente a admirava. Ia para a churrascaria, farmácia, floricultura e sempre olhava para aquela mansão. Até que um dia, percebeu que os habitantes haviam se mudado de lá. O progresso do bairro era visível. Deixara de ser residencial.
          Atualmente tem bancos de todas as instituições financeiras e diversos ônibus transitam pela larga avenida em direção aos bairros cada vez mais distantes.
          A linda e enorme moradia fora alugada pela prefeitura, pois o barulho e a poluição não condiziam mais com os ilustres ex- moradores.
          Luana continuava passando por lá. Mas... não mais com aquele olhar de admiração, mas com outro olhar! Um olhar distorcido, preconceituoso. Incomodava-se com aqueles novos moradores esquisitos, jeito de depressivos que ficavam do lado de fora, de um lado para o outro.
          Aquela casa transformara-se para ela em depósito de lixo humano.
          No seu pensamento preconceituoso, não passavam de loucos irrecuperáveis e para a psiquiatria eram pessoas com problemas mentais tratáveis. Mas... ela passava pelo local e pensava:
          --- Nossa! Que enorme gasto a prefeitura tem com esses loucos! Eu colocaria fogo nessa gente! Que judiação, uma mansão dessa alugada para esses débeis mentais! E... não deixava de pensar no desperdício daqueles gastos, que para ela eram enormes e inúteis!



          Ela que se dedicara ao trabalho durante longos trinta e cinco anos com pouquíssimas faltas não acreditava naquelas doenças. Pensava que aquela cena que via ao passar pela tal mansão era fingimento de vagabundos, com desculpas para não trabalhar. Certa vez, até carro da polícia ela havia visto na porta da ex- residência! Seu preconceito e inconformismo aumentavam.
          O tempo foi passando e ela passando em frente da casa abandonada pelos ricos moradores e agora cheia de pobres loucos (segundo sua opinião).
          Luana sempre achara sua vida muito alegre. Nunca havia necessitado de datas comemorativas, muito menos de abraços carinhosos e aconchegantes para se alegrar.
         Dizia que a felicidade subia-lhe pelos pés até chegar ao cérebro e nesses momentos infalivelmente vinha ao seu pensamento:
        __Por que será que o povo vive pensando em turismo? Minha alegria é tanta que nem viajar preciso para encontrá-la. A felicidade está tão pertinho de mim! Reconheço-a aqui mesmo no ônibus da minha cidade. É uma felicidade embriagadora apesar de eu beber apenas água mineral!
       ---- Sua inseparável amiga e poeta Karla Karusa sempre que estava com Luana em algum botequim ou balada com um copo de cerveja nas mãos, olhava ao redor (com certa vergonha da alegria eufórica de Luana) e dizia baixinho às pessoas ao redor:
        ----- Ela é pedagoga e autora de várias poesias premiadas! Só bebe água! A explosão de felicidade era tanta que precisava ser justificada de várias maneiras, como normal! (sem drogas)
        Mas... Luana percebia que às vezes essa tal felicidade embriagadora escapava-lhe, dando entrada a uma tristeza enorme, deixando-a sem forças, exausta e com muito sofrimento emocional.
         Começou a fazer poesias ora de alegrias, cujos temas eram sambas, bailes, Rio de Janeiro, fantasias, que eram fragmentos de felicidades embriagadoras e depois... como uma gangorra vinha à tristeza, solidão e poesias de intensos sofrimentos, cansaços e até de morte!
            Até que um dia uma doutora psicóloga leu, se encantou com a poesia BIPOLARIDADE de Luana e a homenageou na Universidade onde trabalha como Orientadora de Pesquisa em curso de Psicologia no interior do Estado de São Paulo.
        Depois disso, Luana conheceu outras pessoas que sentiam o mesmo que ela: Essa gangorra emocional, essa alma retalhada, fragmentada como a da colega Poeta Maria Regina Reis que a orientou pela internet a procurar ajuda.
          Resolveu ir à psiquiatra que a diagnosticou como sendo PORTADORA DE TRANSTORNO AFETIVO HIPOMANÍACO (BIPOLAR) doença conhecida antigamente, por transtorno obsessivo compulsivo.
           Em uma reunião de poetas na Biblioteca Pública de Bauru Est.de SP conheceu um jovem poeta com o mesmo diagnóstico. Luana foi orientada por ele a procurar o CAPS ( CENTRO DE ATENÇÃO PSCOSSOCIAL) para iniciar o tratamento para transtornados que é feito em vários bairros da cidade. Ele disse à Luana que procurasse um CAPS perto de sua casa.
           Já adivinhou não é? 
           Sim!!! È naquela mansão onde ela via os “loucos!!!”.  Com todo aquele preconceito, ela não percebia que era um deles!
            Luana com seus sessenta e cinco anos de idade se surpreendeu aprendendo mais uma lição nesse palco onde não consegue sair do ensaio e ir para a peça definitiva propriamente dita e diz:
        ----Estou sempre ensaiando, errando e aprendendo sem nunca estar pronta para entrar em cena na vida. Peço desculpas e perdão á mim mesma!!! A auto condenação é uma das penas mais dolorosas que uma pessoa pode receber na vida.. 
        SUA SENTENÇA: 
        DISCERNIMENTO, CLAREZA, RECONHECIMENTO E VERGONHA DO PRÓPRIO ERRO.
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Premiada com a Medalha de Bronze com o conto AUTOCONDENAÇÃO.

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